Se você quer um passo a passo para curar a depressão pare de ler esse texto agora.

Com o cenário de mundo que temos hoje, nós somos obrigados a negociar a nossa saúde mental a todo momento. O que é a negociação nesse sentido? É a ação de analisar e interpretar os acontecimentos em nossa vida e manter uma vigilância em quais são os impactos e como compreendemos a intensidade dos efeitos em nós.

Essa ação, por si só, já é cansativa e nos ameaça. Mas é a realidade que vivemos hoje, em um mundo onde os abusos e a pressão em “sempre ser a sua melhor versão” nos assola.

Você já ouviu essa frase: “Seja a melhor versão de si mesmo?”. Essa é uma constante em posts de instagram e tik toks, onde a performance é o ponto focal. Mas pera aí… é possível performar a todo tempo? E quando desenvolvemos um quadro depressivo terrível? E quando eu atingi o ápice do meu burnout… eu devo me preocupar em performar? Em uma crise de ansiedade brava, eu consigo me preocupar com o resultado da minha melhor versão?

O que significa ser melhor?

O sofrimento é real e uma pessoa que passa por um quadro depressivo se apega sempre no momento em que vai “se livrar da depressão”.

Não, pera.

Não é por aí. É claro que não existe pílula mágica, ou seja, Fluoxetina e Prozac sozinhos não vão aumentar a serotonina nas fendas sinápticas do seu cérebro e te fazer pular de alegria.

Estar em um quadro depressivo ou viver com um diagnóstico é um eterno aprender a subverter a depressão, ou seja, contemplar e compreender as suas origens, fazendo com que aprendamos novos movimentos de guerra e quebrarmos o funcionamento vicioso que ela nos traz.

Mas não é uma tarefa fácil e muito menos entra na lógica da performance. Até porque a depressão não vai embora pra sempre, mas quando ela voltar a gente sabe muito bem o que fazer, pois estamos em posição de guerrilha.

Para a psicologia junguiana é muito importante que o paciente acesse a figuras e símbolos para despertar algo dentro de si. Funciona como se fosse uma chave que gira dentro de uma fechadura dentro de nós e nos acorda sobre novas habilidades. Nós utilizamos as mitologias para que isso aconteça. Na mitologia nagô yorubá, mitologia essa esquecida e não contemplada em atendimentos terapêuticos por conta do racismo presente no pensamento eurocêntrico das psicologias, temos dois orixás que nos ajudam a negociar e a entrar em posição de guerrilha contra a depressão: Exu e Ogum.

É Exu quem nos desperta a estarmos vigilantes e completos em uma negociação pela nossa saúde mental. É ele quem bate na porta do nosso inconsciente, atuando como mensageiro, para que possamos lidar com os complexos que fazem um quadro depressivo acontecer. Na mitologia nagô-iorubá, Exu nos alimenta com dendê, semente quente e apimentada que nos levanta. Ele também é dono do mercado, em seus mitos é ele quem atua na compra e venda do que nutre uma comunidade. Aqui podemos apender com ele como negociar com o mundo a nossa depressão, colocando nossos limites, nossos anseios e principalmente em palavras aquilo que estamos sentindo, deixar o inconsciente falar também nos nutre.

E Ogum nos ensina a forjar a espada necessária e, através da sua dança marcial, pensar a estratégia de guerra em quadro de dor. É Ogum que quando está ferido tira um tempo para se recuperar, que não vai querer performar a luta sem ter forças para lutar, mas sim vai forja sua espada, vai criar toda a tecnologia necessária para se levantar e bradar um grito, mesmo que de sofrimento, para como começar a sua transformação.ao

Vê como não existe uma cura única para a depressão? Existem acessos, excessos e muita dança para lidar com ela. Negociando e pensando na guerra… é assim que vamos.